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    Tamarindos e Sonhos

    Por Hamer Palhares

    Sobre

    Tamarindos marcaram minha infância. Eram um alerta e eu não percebi: existir tem algo de alcalino, que amarra, que a gente não compreende bem. Mas que, com o pó da estrada e com a nostalgia que nos encontra em cada banca de jornal, aí sim, a gente sente bem. Tamarindos são a encarnação de relógios marrons, aveludados toscamente, a nos lembrar que o tempo passa, mesmo que não queiramos falar disto. Sabor único é tragá-lo como se fôssemos resistentes à ferrugem. Adoçar não cura o ardido, não nos livra de suas amarras.
    Tamarindo é tudo o que a vida tem de arrebatador. Eu não entendia bem por que é que faziam suco daquilo. Devia ser porque tinha uma daquelas árvores na casa da Tia Neusa. Não me lembro ao certo se eram grandes, mas naquela época deviam ser. Talvez do tamanho de um limoeiro. Os tamarindos tem uma casca dura, da consistência de uma macaúba, um pouco mais molenga, uma polpa escassa e grudenta. Traz o gosto do umbu, algum parentesco com jatobá, pouca cremosidade, acidez de pomelo, um quarto de colher de café de noz-moscada ou um pouco mais. E constringe que não tem nada que se compare, vinho novo abundante em tanino. Na verdade, acho que não é nada disto, é que a vida nos faz ficar cheio de manias - como estes velhos que gostam de ficar o dia todo de pijama - a pior delas é este vício besta de tentar definir as coisas...
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