Anotações á carta que nos dirigiu o snr. dr. Theóphilo Braga 1 «A ninguem interessaria tanto o conhecimento d'este problema, como a mim, que esbocei uma biographia de Christovam Falcão com elementos historicos (documentos authenticos) comprovando dados genealogicos.» Carta do snr. dr. Th. Braga. Não ha a menor dúvida quanto á primeira parte d'esta afirmação. Com efeito, o snr. dr. Theóphilo Braga esboçou uma biografia de Cristovam Falcão, e ninguem ousará contestar-lhe o mérito de haver sido o Plutarco do suposto trovador. Esboçando-lhe a biografia, o abalisado professor de literatura serviu-se de documentos autênticos... mas utilizando alguns que não diziam respeito ao pseudo-poeta, e sim a um outro Cristovam; e interpretando, modificando e adulterando outros documentos ao sabor do seu paladar, ao capricho da sua fantasia. No capitulo XIX do nosso estudo sobre Bernardim Ribeiro destrinçamos os documentos históricos que o snr. dr. Theóphilo Braga propositadamente confundiu, e restabelecemos o texto de uma das cartas de Cristovam Falcão de Sousa que o habil professor emendara, com o zelo de Plutarco cioso do bom nome do seu heroe... lendário. No segundo capítulo d'este livro, ficou tambem fielmente reproduzida outra carta de Cristovam Falcão, que o infatigavel historiador havia corrigido, como se se tratasse de um tema de algum discípulo seu. Mesmo quando se entrega a trabalhos de reconstituição histórica, o snr. dr. Theóphilo Braga não se esquece de que é professor de literatura portuguêsa! Depois de isto, como ousa o snr. dr. Theóphilo Braga invocar os documentos autênticos de que tam mau uso fez? 2 «Tive de ler immediatamente o seu livro, para ver que materiaes traria para o aperfeiçoamento do meu trabalho.» Carta do snr. dr. Th. Braga. Tem graça, e não ofende! Se leu imediatamente o nosso livro, não foi para ver que novos subsídios forneciamos para o estudo da história da literatura portuguêsa, mas sim para conhecer quaes os materiaes que lhe facultariamos para o aperfeiçoamento do seu trabalho... Cabe n'esta altura, a talho de foice, deixar consignada certa passagem de uma palestra que o snr. dr. Theóphilo Braga teve com um dos seus mais inteligentes discípulos a propósito da publicação do nosso livro sobre Bernardim Ribeiro: «V. compreende... Eu sou como um mestre de obras... na construção de um edificio. Ha vários pedreiros... Vão-me chegando ás mãos diversas pedras... Aproveito aquelas que se me afiguram de feição, geitosas, convenientes para a minha obra, e as outras ponho as de parte, deito-as fóra.» E a um distinto confrade nas letras, ainda por motivo da publicação do nosso livro, o professor do Curso Superior de Letras teve ensejo de referir-se á nossa obscura pessoa, fazendo o favor de nos reconhecer talento, mas... que os estudos de investigação histórica eram umas teclas muito dificeis, muito complicadas... O apreciado mestre de obras (segundo a frase de s. ex.a) escusava de ter lido o nosso trabalho. O sub-título do livro, O Poeta Crisfal, demonstrava suficientemente ao snr. dr. Theóphilo Braga que nenhuma pedra de feição poderiamos proporcionar-lhe para o aperfeiçoamento da sua obra, porque o nosso livro lhe atirava a terra com os alicerces em que se firmava o edificio... ou monumento erguido ao falso Crisfal. Foi um castelo de cartas que um sopro deitou ao chão... Oh! os estudos de investigação histórica são realmente... umas teclas muito complicadas
TheÁ²philo Braga e a lenda do Crisfal
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