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    Um lugar perigoso

    Por Luiz Alfredo Garcia-Roza
    Existem 13 citações disponíveis para Um lugar perigoso

    Sobre

    Em mais um capítulo da saga do delegado Espinosa, um professor com uma síndrome rara leva a investigação para o mais perigoso dos lugares: o interior da mente humana.


    São muitos os lugares perigosos deste livro. O primeiro é o próprio Rio de Janeiro, onde a história se desenrola. Como de costume nos romances de Garcia-Roza, a cidade é protagonista e sua geografia se torna parte indissociável da trama.

    Outro lugar de perigos insondáveis é a memória do professor Vicente, figura central neste enredo. Afastado da universidade em razão de problemas de saúde, ele passa os dias em casa e ganha a vida como tradutor, numa rotina aparentemente tranquila. Até que se depara com uma lista cheia de nomes demulheres.

    Quem são elas? Foram suas colegas na universidade? Alunas? Por que ele as reuniu numa lista e que relação manteve com elas? São questões que ele não tem como desvendar, pois sofre de uma síndrome em que as lembranças se apagam e a imaginação toma o lugar dos fatos.

    Vicente busca a ajuda do delegado Espinosa para descobrir o paradeiro das mulheres listadas. Mas a investigação traz à tona os cantos obscuros de sua mente e pode revelar a origem de crimes que nada têm de imaginários.

    Na décima primeira aventura do delegado Espinosa, Garcia-Roza mostra por que é um dos renovadores do gênero policial no Brasil e um de seus artífices mais talentosos.

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    Citações de Um lugar perigoso

    que podemos concluir disso tudo é que é muito mais difícil nos livrarmos dos cadáveres produzidos pela nossa imaginação do que de cadáveres reais que já enterramos.

    Anita admitia que a paixão pudesse ser o condimento temporário na relação do casal, mas nunca seu fundamento.

    Korsakov, cujo sintoma mais sério é a amnésia, que pode causar lacunas de memória a ponto do portador da síndrome perder sua própria história pessoal. Uma das formas da pessoa lidar com essa perda é preencher as lacunas criando histórias fictícias (mas que ela considera verdadeiras) ou criando situações reais que confirmem as ficções imaginadas por ela. O professor Vicente está convencido (ou pretende se convencer) de que a imagem repetitiva do corpo desmembrado de uma mulher que lhe aflora à memória é o corpo de uma mulher morta por ele há cerca de dez anos, quando era professor de literatura da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Não há nenhum indício material ou testemunhal que corrobore a suspeita dele. Eu não tenho nenhuma suspeita específica, mas eu suspeito dele em geral.

    Mas ele havia lido também que na memória nada se perde, que o passado se conserva integralmente, e que o esquecimento é uma defesa contra a emergência desse passado armazenado cada vez que precisamos recorrer a ele.

    Ele é portador de uma doença neurológica chamada síndrome de

    E esse não caso pede uma investigação policial? — O próprio reclamante pede que isso seja feito, para livrá-lo das imagens perturbadoras ou das dúvidas com relação a essas memórias. — Interessante. — E agora ele se queixa de ser observado de binóculo, dia e noite, por uma jovem vizinha do prédio em frente.

    Um professor me procurou na delegacia para confessar um ou vários assassinatos de mulheres que ele teria cometido há mais de dez anos; disse que agora as imagens dos corpos esquartejados emergem à sua consciência, atormentando-o. Mas ele não lembra quando esses crimes foram cometidos, nem como ou onde foram executados, nem quem eram essas mulheres. A única referência que ele tem é uma lista de dez nomes numa caderneta do ano de 2001.

    Tudo bem, mas uma coisa que talvez você não saiba é que o professor sofre de um distúrbio chamado síndrome de Korsakov, uma forma de amnésia que deixa falhas, verdadeiros buracos na memória, que ele procura tamponar com histórias inventadas que passam a fazer parte de sua história pessoal real. Acontece de às vezes ele precisar tornar realidade a história inventada, mesmo que ela não seja agradável. Entendeu? — contou Espinosa. — Acho que sim, a mensagem é: tome cuidado que ele pode se tornar perigoso.

    Eu sofro de amnésia. Minha memória de longo prazo é muito comprometida… Atualmente, também a memória de curto prazo está afetada. Não sou capaz de dizer se há dez anos eu estive em determinado lugar.

    Ninguém é completamente louco nem ninguém é completamente normal. Cada pessoa tem sua loucura particular, que em uns é uma loucura light, modesta, intimista, e em outros é como uma tempestade tropical, impossível passar desapercebida.

    O que podemos concluir disso tudo é que é muito mais difícil nos livrarmos dos cadáveres produzidos pela nossa imaginação do que de cadáveres reais que já enterramos.

    Isso queria dizer que a função maior e mais importante da memória não é lembrar, mas esquecer. Esquecemos para não nos afogarmos num interminável tsunami de lembranças.

    Já era noite quando Espinosa aproveitou uma estiada e deixou a delegacia a caminho de casa. Morava no Bairro Peixoto, um minibairro no coração de Copacabana formado de duas quadras com uma praça no meio e cercado de morros.

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