Histórias e Conversas de Mulher
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O ditado popular parecia se confirmar: “Branca para casar, mulata para foder e negra para trabalhar”.
Enquanto para as mulheres não se colocava sequer a possibilidade de serem desculpadas por matarem maridos adúlteros, aos homens a defesa da honra perante o adultério feminino comprovado encontrava apoio nas leis.
Na sociedade tradicional, a mulher não possuía estatuto fora do casamento; ele era a única instituição que lhe permitia se realizar como ser social.
As mulheres do século XXI são feitas de rupturas e permanências. As rupturas empurram-nas para a frente e as ajudam a expandir todas as possibilidades, a se fortalecer e a conquistar. As permanências, por outro lado, apontam fragilidades. Criadas em um mundo patriarcal e machista, não conseguem se enxergar fora do foco masculino. Vivem pelo olhar do homem, do “outro”.
A pergunta que fica é: quando vamos ser nós mesmas, sem pensar em como ou quanto os homens nos desejam? Sem ter de escolher entre ser santa ou p…?
A soma dessa tradição portuguesa com a colonização agrária e escravista resultou no chamado patriarcalismo brasileiro.
Não é necessária muita perspicácia para perceber sintomas de insatisfação nas mulheres de hoje. Casadas e solteiras, ociosas e trabalhadoras, estudantes e profissionais, artistas e donas de casa todas elas em algum momento deixam transparecer resquícios de frustração, um desejo ora nostálgico ora invejoso, de outra existência diferente, outro caminho distinto ao que escolheram – como se a felicidade estivesse lá.
Para muitas, a liberdade sexual é um fardo, e elas têm nostalgia da velha linguagem do amor, feita de prudência, tal como vivenciaram os avós. A pergunta que fica é: quando vamos ser nós mesmas, sem pensar em como ou quanto os homens nos desejam? Sem ter de escolher entre ser santa ou p…?
O médico italiano Cesare Lombroso afirmava que aquelas dotadas de grande capacidade intelectual eram criminosas natas. Seriam incapazes do altruísmo, da abnegação e da paciência que caracterizavam a maternidade. Mulheres honestas que quisessem se educar corriam o risco de se tornar prostitutas ou suicidas, porque homens comuns jamais se casariam com elas – o conhecimento lhes causava “repugnância”.
Tudo indica que o problema não é na rua, mas em casa. É lá que elas escondem os sentimentos masculinizados. Muitas protegem filhos que agridem outras mulheres. Não os deixam arrumar o quarto: “Homem não nasceu para isso”! A ideia é tornar marido e filhos dependentes delas em assuntos domésticos, pois muitas são dependentes financeiras deles. Outras calam sobre comentários machistas dos companheiros, incentivam piadas e estereótipos sobre a “burrice” feminina, cultivam cuidadosamente o mito da virilidade. Gostam de se mostrar frágeis, pois acreditam que eles, assim, sentem-se mais potentes. E de ser chamadas de xuxuzinho e tudo o mais que seja convite a comer. O título de cachorra é um elogio. Acreditam que a feminilidade é um estado natural, a ser conservado, e que todas as despesas aí investidas, até cirurgias que acabem por desfigurá-las, são um bom negócio. São coniventes com a propaganda sexista e com a vulgaridade da mídia. Na TV, aceitam temas apelativos e não se incomodam que estes encham a cabeça das filhas. Conclusão: há uma desvalorização grosseira das conquistas das mulheres por elas mesmas.
É no terreno psíquico e mental que se manifestam os saldos positivos da idade. Aos quarenta anos bem vividos já não têm lugar os passos em falso, a desorientação sobre a própria personalidade, a confusão sobre o papel que nos cabe desempenhar no mundo. A mulher quarentona que não tenha permanecido imatura já superou inibições, receios e constrangimentos, sente o solo firme sob os pés e a tranquila certeza de haver no universo um lugar que ela conquistou e que só a ela pertence […] sabe que não foi amada como uma linda boneca, mas como uma pessoa singular, condição que os anos, em vez de roubar, reafirmam e acentuam. Mereceu seus quarenta anos e saberá vivê-los como prêmios e não como maldição.
A antiga família patriarcal, com muitos filhos legítimos e ilegítimos, irmãos, sobrinhos, primos, tios e agregados, voltou a emergir na sociedade, só que com uma roupagem adaptada. A opção pela convivência com ex-membros da família é uma saída social inteligente e criativa, que vai de encontro dos tempos do Brasil Colônia, com suas famílias extensas. Elas são hoje um exemplo do Brasil arcaico e do moderno se completando.
E o chá de panela, símbolo da domesticidade, foi substituído pelo chá de lingerie, símbolo da sexualidade.