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    Manuelzão e Miguilim : (Corpo de baile)

    Por João Guimarães Rosa
    Existem 11 citações disponíveis para Manuelzão e Miguilim : (Corpo de baile)

    Sobre

    As duas novelas que compõem este livro faziam parte de Corpo de baile, livro de João Guimarães Rosa que, em sua 3ª edição, foi dividido em três volumes independentes: Manuelzão e Miguilim, No Urubuquaquá, no Pinhém e Noites do sertão.

    A primeira delas, ?Campo Geral?, conta a estória de ?um certo Miguilim? que ?morava com sua mãe, seu pai e seus irmãos, longe, muito longe daqui?, no Mutúm, no meio dos Campos Gerais. A novela retrata seu mundo infantil, povoado de entes e palavras, ainda sem a rigidez de um universo sistemático, onde, a cada dia, ele tenta entender a vida (?Dito, como é que a gente sabe certo como não deve de fazer alguma coisa, mesmo os outros não estando vendo??), com a ajuda dos brinquedos inventados, dos bichos, das outras crianças, dos adultos e, sobretudo, das estórias que inventa.

    A segunda, ?Uma estória de amor?, narra os preparativos e a festa de consagração de uma capela construída por Manuelzão, administra dor da Samarra, um lugar ?nem fazenda, só reposto, um currais-de-gado, pobre e novo ali entre o Rio e a Serra-dos-Gerais?. Toda a novela desenvolve-se em torno de um levante de boiada, que serve de ligação entre as cenas e de imagem para o próprio povo em festa; e, como num acampamento de vaqueiros, uma travessia se perfaz quando a estranheza de um acontecimento (a festa) remete Manuelzão a um mundo em que ?tudo virava outro?, e ele descobre também uma vida que não viveu, que não sabia.

    À infância de Miguilim reúne-se a velhice que Manuelzão sente chegar e que traz um outro recomeçar: ?De todo não queria parar, não quereria suspeitar em sua natureza própria de um anúncio de desando, o desmancho, no ferro do corpo. Resistiu. Temia tudo da morte.? A mesma morte que ronda as crianças nos lugarejos distantes, onde não há recursos. O mesmo medo de se ir para o escuro da mata, sozinhos, debaixo de chuva, a gente sempre pequenos. As duas novelas complementam-se: enquanto a do menino é uma constante e por vezes dolorosa des coberta do mundo e das relações entre as pessoas e as coisas, a do velho vaqueiro é um relembrar (redescobrir) também por vezes doloroso do que é a vida, como se, de tão acostumado com ela, ele houvesse esquecido sua dinâmica e se deparasse de novo com a sua ?espantante? novidade.

    Abordando, na infância e na velhice, o começo e o fim não só da vida propriamente dita como de tudo o que existe ou acontece, este livro apresenta uma densidade e uma elaboração que são evidentes, mesmo em observações absolutamente infantis: ?Miguilim não tinha vontade de crescer, de ser pessôa grande, a conversa das pessôas grandes era sempre as mesmas coisas secas, com aquela necessidade de ser brutas, coisas assustadas.? Os episódios sucedem-se dentro de uma lógica narrativa, em que se vai revelando-lhes a função simbólica a cada leitura ? porque, como todos os livros de Guimarães Rosa, Manuelzão e Miguilim é para ser lido muitas e muitas vezes, sempre com renovado prazer e, principalmente, com renovados olhos.

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    Citações de Manuelzão e Miguilim : (Corpo de baile)

    Alegre era a gente viver devagarinho, miudinho, não se importando demais com coisa nenhuma.

    Mas agora Miguilim queria merecer paz dos passados, se rir seco sem razão. Ele bebia um golinho de velhice.

    “O ruim tem raiva do bom e do ruim. O bom tem pena do ruim e do bom… Assim está certo.” “— E os outros, Dito, a gente mesmo?” O Dito não sabia. — “Só se quem é bronco carece de ter raiva de quem não é bronco; eles acham que é moleza, não gostam… Eles têm medo que aquilo pégue e amoleça neles mesmos — com bondades…” “—

    Miguilim não tinha vontade de crescer, de ser pessôa grande, a conversa das pessôas grandes era sempre as mesmas coisas secas, com aquela necessidade de ser brutas, coisas assustadas.

    Repensava aquele pensamento, de muitas maneiras amarguras. Era um pensamento enorme, aí Miguilim tinha de rodear de todos os lados, em beira dele.

    a gente carecia de querer pensar somente nas coisas que devia de fazer, mas o governo da cabeça era erroso

    “— Dito, eu às vezes tenho uma saudade de uma coisa que eu não sei o que é, nem de donde, me afrontando…”

    Mas Miguilim estava chorando simples, não era medo de remédio, não era nada, era só a diferença toda das coisas da vida.

    “Miguilim, Miguilim, vou ensinar o que agorinha eu sei, demais: é que a gente pode ficar sempre alegre, alegre, mesmo com toda coisa ruim que acontece acontecendo. A gente deve de poder ficar então mais alegre, mais alegre, por dentro!…”

    “Seo Camilo, escute, o Manuelzão aqui está indagando umas coisas, ele quer negociar com a vida. O senhor me responda, o senhor que já viveu o de outros e o seu: quais são as horas melhores?” Velho Camilo respondia, com seo sério, suas palavras de teor: — “De verdade. Horas melhores, quando acho o que comer, e o que vestir. Horas piores, quando acho alguma malquerença, que não posso atalhar…” Assim respondido.

    maquinazinha de ser de bem-cantar… —

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