Não tenho aqui a pretensão de elucidar e nem tampouco de explicar Nietzsche, uma vez que, penso que, o mesmo, por tão complexo e hermético que é, não pode ser traduzido. Penso mais: que todo aquele que tem a pretensão de traduzir Nietzsche corre também o risco de traí-lo.
Meu objetivo aqui é apenas fomentar o diálogo e a problematização acerca de questões que, a meu ver, têm sido mal colocadas e/ou desvirtuadas por parte de alguns ditos filósofos pós-modernos a respeito dos principais axiomas de Nietzsche.
Nietzsche, por exemplo, embora não saibam muitos, critica a moral judaico-cristã e também os auspícios da ciência no que se refere à busca desta pela verdade. Todavia, sua crítica, em nenhum momento, o coloca na condição daquele que faz apologia às imoralidades, às libertinagens e/ou a criação de novos dogmas para serem postos como ditas verdades.
I - Sua obra o "Anticristo" não se trata de uma apologia ao ateísmo, mas de uma visão sobre o que fizeram de Deus e também de uma configuração sobre o niilismo provocado pelo Antropocentrismo ao Teocentrismo com o surgimento da era moderna. Nietzsche, por exemplo, diz-nos: "(...) eu somente creria num Deus que soubesse dançar..."
II - Vontade de potência, em Nietzsche, diz respeito à importância da busca do homem pela sua superação enquanto ser humano, ou seja, diz respeito ao alcance da plenitude de sua humanidade. E ele nos diz:
"O homem é uma ponte e não um fim... o homem é uma ponte que vai do animal para além dele mesmo... e é perigosa essa travessia..."
III - Ser "humano, demasiado humano", para Nietzsche, não é um Ser se tornar escravo dos seus próprios maus e/ou supostamente autoditos bons instintos; não é se tornar escravo do seu próprio corpo, dos seus desejos, ainda que, julgando-se, nesse tortuoso caminho, estar seguindo em oposição férrea às ideias e/ou aos ditos ideais Platônicas.
Ser “humano, demasiado humano”, para Nietzsche, frise-se:
“É apenas pôr-se a exercitar-se como artista, isto é, é buscar ser capaz de criar e recriar novas formas possíveis de existência.”
Para Nietzsche, voltar-se para a arte, para o “que fazer artístico”; para a criação de novos sentidos para a vida, já é questionar e/ou revolucionar todas as formas antigas ou modernas estabelecidas de ditas verdades.
IV - Nietzsche diz-nos mais: "se criar é ultrapassar-se, a criatura deve sempre buscar prevalecer sobre o seu criador."
V - Para Nietzsche, todo aquele que cria valores novos, inevitavelmente destrói e/ou questiona aqueles que, anteriormente, tinham sidos criados. Entretanto, o super-homem defendido por Nietzsche não deve ser entendido como um corruptor, mas apenas como um legislador de novos sentidos e não como um suposto criador de novas ditas verdades e/ou dogmas absolutos.
VI - Nietzsche, em vários dos seus escritos, fala-nos, por exemplo, da necessidade da existência de três transformações no espírito e, sob as quais, deve ou deveria passar o Ser humano, a saber:
1- o camelo;
2- o leão;
3- a criança.
Numa espécie de metáfora por Nietzsche criada, o camelo, com um número excelso de cargas sobre as costas, está representado pelos homens de cultura judaico-cristã que, sob a forma de dogmas e/ou verdades ditas eternas e imutáveis, as carregam e propagam-nas enquanto valores absolutos.
O leão, para Nietzsche, está representado pelos homens da era moderna e/ou agora pós-moderna que, motivados pelas ideias antropocêntricas, ao mesmo tempo em que negam e esforçam-se para destruir as ditas verdades judaico-cristãs, colocam em seu lugar, também na condição de dogmas, os ditos valores e/ou saberes científicos.
A criança no espírito, para Nietzsche, é colocada "como um começar de novo; como uma roda rodando por si mesma; como um dizer não diante do que impede o homem de tomar sobre si a sua humanidade", que é entendido como o desenvolvimento, em si, das capacidades de questionar, de dialogar e de criar novos sentidos.
Criar novos sentidos,
PÉROLAS DE NIETZSCHE
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