* Annotated with author biography.
"Ia a lua sumindo-se lívida, por trás de um cabeço onde se abria o roçado. Por entre as palhas do milho, ? um mar de cobraria esverdeada, com reflexos de armas brancas em mãos de combatentes revoltos, ? fervilhava um sopro álgido que saía roncando de sob a mata cavernosa das cercanias. Pelo meio da roça bracejavam uns gigantes magros, pre¬tíssimos, grandes árvores cuja fronde em tempo fora roída pela queima das coivaras. Em um dos cantos, como rico em seu sobrado, estava eu na rede muito aereamente armada nos músculos de uma peroba. Via as árvores salientes como se fossem rochedos, e o cerrado do bosque me fazia horror. Palavra que me arrependia daquela caçada. Porém, tinha uma fé extraordinária no uniforme de couro tanado que me modelava dos pés à cabeça. Me lembrava de que, se visse uma onça, era só enluvar na esquerda o chapeirão e meter-lhe pela boca adentro, enquanto com a destra lhe furasse corajosamente o coração com uma facada. Eu via blocos muito escuros 'no meio da claridade morna que circula no orga¬nismo da própria noite.
Verberações de estrelas abrindo os olhos de fera. Me achava meio nada, meio ser. O horizonte não existia a tais horas senão para as pe¬netrações luminosas, nascimento ou sepultação de algum astro. Não ha¬via perspectiva.
De repente ouvi quebrar mato e estremeci todo. Perguntei a mim mesmo: "Pois veado faz medo assim?"
Entretanto o ruído não procurava o roçado, como faria o cervo, para furtar milho; mas entranhava-se para o meu lado.
Pus-me debruços, com a espingarda por baixo de mim e o dedo no gatilho. Os meus olhos apavorados farejavam a direção da caça. Mas, diabo! veado faz medo assim? No tronco encovado de uma embaúba, cessou o movimento; e em seguida vi perfeitamente um bicho que, se espojando, rosnava, grunhia, relinchava, berrava..."
"Ia a lua sumindo-se lívida, por trás de um cabeço onde se abria o roçado. Por entre as palhas do milho, ? um mar de cobraria esverdeada, com reflexos de armas brancas em mãos de combatentes revoltos, ? fervilhava um sopro álgido que saía roncando de sob a mata cavernosa das cercanias. Pelo meio da roça bracejavam uns gigantes magros, pre¬tíssimos, grandes árvores cuja fronde em tempo fora roída pela queima das coivaras. Em um dos cantos, como rico em seu sobrado, estava eu na rede muito aereamente armada nos músculos de uma peroba. Via as árvores salientes como se fossem rochedos, e o cerrado do bosque me fazia horror. Palavra que me arrependia daquela caçada. Porém, tinha uma fé extraordinária no uniforme de couro tanado que me modelava dos pés à cabeça. Me lembrava de que, se visse uma onça, era só enluvar na esquerda o chapeirão e meter-lhe pela boca adentro, enquanto com a destra lhe furasse corajosamente o coração com uma facada. Eu via blocos muito escuros 'no meio da claridade morna que circula no orga¬nismo da própria noite.
Verberações de estrelas abrindo os olhos de fera. Me achava meio nada, meio ser. O horizonte não existia a tais horas senão para as pe¬netrações luminosas, nascimento ou sepultação de algum astro. Não ha¬via perspectiva.
De repente ouvi quebrar mato e estremeci todo. Perguntei a mim mesmo: "Pois veado faz medo assim?"
Entretanto o ruído não procurava o roçado, como faria o cervo, para furtar milho; mas entranhava-se para o meu lado.
Pus-me debruços, com a espingarda por baixo de mim e o dedo no gatilho. Os meus olhos apavorados farejavam a direção da caça. Mas, diabo! veado faz medo assim? No tronco encovado de uma embaúba, cessou o movimento; e em seguida vi perfeitamente um bicho que, se espojando, rosnava, grunhia, relinchava, berrava..."