As ?estórias? de Tutameia (Terceiras estórias) são as mais curtas da obra de João Guimarães Rosa e representam um exercício de síntese realizado com excepcional habilidade. Paulo Rónai observou que elas são ?romances em potencial comprimidos ao máximo?. Dispondo de espaço limitado ? os contos foram originalmente escritos para publicação em revista ?, o autor concentra em poucas páginas uma grande intensidade de ação e de observação.
Cenário, personagens e estilo são os mesmos que os leitores já se habituaram a encontrar na obra de João Guimarães Rosa. A região Centro-Oeste, o sertão mineiro, as velhas fazendas, as pequenas povoações, os lugarejos perdidos e esquecidos do interior constituem o ambiente em que se desenrolam as estórias. E mais do que ambiente, podem ser considerados também como personagens pela integração do homem com o meio onde vive e que constitui um dos traços marcantes da ficção de Guimarães Rosa, resultado de longa observação da realidade, transposta depois para o plano literário num estilo que é o reflexo dessa paisagem e de seus habitantes, tal o aproveitamento da linguagem do sertanejo.
Como disse Alceu Amoroso Lima a respeito de Tutameia, ?Guimarães Rosa tomou da matéria plástica Brasil em suas mãos de bruxo, tanto paisagem como gente e linguagem, e com ela está modelando uma imagem de nossa cultura absolutamente inédita (...) admirável e incomparável tapeçaria que está tecendo com a fibra mais tipicamente nacional (...) e ao mesmo tempo, com uma nota de humanismo universal tão completa?.
Tutameia foi o último livro publicado em vida de Guimarães Rosa, que faleceu poucos meses depois de lançada a sua primeira edição em 1967.